Um quarto (alugado) de século

Onze meses e três dias para um quarto de século.
Um quarto possivelmente passado no quarto alugado, a única habitação possível na vida de um jovem da atualidade. Por melhor que o emprego seja, há sempre uma dívida, uma situação inesperada, enquanto a tão esperada casa, com contrato assinado e com o nosso nome na escritura, fica cada vez mais longe da nossa vista, como se fossem as cataratas da idade que vão distorcendo cada vez mais essa visão.
Onze meses e três dias para um quarto de século.
Até um quarto de século de vida é alugado, é algo que não nos pertence realmente, nunca será nosso. Tem contrato anual, com renda mensal e doze cauções mistério. Por sorte, ainda existem os fiadores que nos trouxeram a este mundo, que estão sempre lá para dar um pequeno empurrão de apoio e para servir de espelho ao que o mundo era no seu tempo e o que é agora no nosso.
Onze meses e três dias para um quarto de século.
Sem casa, sem descendência, apenas com a garantia do quarto alugado, enquanto for pago, e do quase quarto de século pago todos os dias com a capacidade de não desistir a meio caminho.
Faltam apenas onze meses e três dias para um quarto de século, mas a dúvida perdura. Mais quantos quartos ou terços são precisos para a sensação de objetivo concluído. Para assinar o meu nome numa escritura e numa certidão de nascimento, sem perder momentos do dia a pensar se o salário é o suficiente até ao final do mês, e para que encontrar uma moeda perdida na mala não seja um motivo de alívio nos dias que antecedem ao dia D.
Inês Marques,
11 de janeiro de 2025