Tempestade num corpo de água

09/06/2022

A cabeça lembra uma bomba-relógio, sem temporizador. Pode explodir a qualquer momento, qualquer hora, qualquer lugar, ninguém sabe. Funciona como a morte, só se sabe quando acontece.

O coração aperta, como se uma mão invisível se colocasse à volta dele e o sufocasse mais é mais, dando a sensação de que inevitavelmente vai parar, e com a incerteza de ser permanente ou temporário. As mãos tremem, não por frio, mas por medo, por raiva, tristeza, ou apenas porque o cérebro assim o manda, também ele descontrolado, sem saber o que fazer. As lágrimas escorrem, os soluços entoam, sem que se saiba o porquê. Apenas acontece. Tudo isto se dá dentro de um só corpo, uma só mente, uma só alma. O desespero cresce, as lágrimas não cessam, o aperto não alivia.

A única solução é aquele pequeno comprimido, aquela pequena droga, que de um, passa a dois, de dois passam a três, até que tudo fique em ordem, e a paz interior seja restabelecida. De um problema nasce outro, o vício. O vício daquela sensação de calmaria emocional, a sensação de ser invencível emocionalmente, o sono e a melhor parte, a sensação de leveza espírita e corporal. Umas horas depois tudo recomeça, tudo se repete. Desde a bomba-relógio, à mão invisível, às mãos que tremem, às lágrimas e soluços que não cessam, e por fim, a droga, o alívio.


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