O peso das palavras

Este foi um daqueles dias em que ficar na cama teria sido a melhor opção, ou ser uma espécie de Harry Potter e ficar no quarto, sem fazer barulho nenhum e fingir a própria inexistência.
Pensei que o pico da ansiedade do dia fosse a colocação do implanon, todo o processo de possíveis anestesias e inserção de objetos estranhos por baixo de uma das camadas da minha pele, mas o pior foi subir à balança.
Andava há meses ou talvez há mais de um ano a rejeitá-la, a pensar que se não souber quanto marca, não sei quanto dói, mas fui obrigada a enfrentá-la. A maldita marcava mais 18kg do que no ano passado. O pior não foi o choque de ver a realidade do meu peso, mas sim os comentários tecidos pela médica que pensei estar lá para auxiliar, mas no fundo foram minutos de constant shame.
Estava num momento de aceitação do meu corpo, de aceitar que o mesmo pode ser bonito assim, mas não. 18 kg a mais não é normal para uma jovem de 21 anos; fazer caminhadas também não porque as mesmas se destinam aos "velhos"; os comentários sobre como as minhas articulações estão a sofrer por levarem com um preso brutal em cima. Toda a preocupação desta médica centrou-se no peso físico que levava comigo, mas em momento algum com o peso mental que carrego comigo muito antes de aparecerem os 18 kg.
Foi preciso uma segunda médica para esse assunto surgir no gabinete médico. Foi preciso aparecer uma segunda pessoa que perguntasse qual o meu nível de ansiedade, se a mesma andava controlada, se tinha distúrbios alimentares. E só aí o body shaming da primeira médica cessou. Só aí se começou a pensar em acompanhamento psicológico, só assim se teve a percepção que o aumento de peso não é apenas devido à comida que me entra pela boca, mas também pelos pensamentos que não me saem da cabeça.
Nenhum daqueles comentários serviu como incentivo a uma mudança, nem motivação para começar a fazer algo para derreter aqueles malditos 18 kg, ou até mais. Foram minutos de uma humilhação intensa, onde lágrimas quiseram escapar desde o primeiro comentário, onde o ritmo cardíaco aumentou ainda mais, onde o peito começou a apertar mais e mais. Foi mais um ataque de ansiedade reprimido. De nada me servia chorar num consultório onde alguém afirmou que ter problemas de ansiedade não justifica a não comparência num ginásio, que afirma que o ginásio é a solução para que essa ansiedade passe. Todos estes comentários culminaram numa intensa vontade de total desistência, de vontade de recolhimento total no quarto, abstinência de comida, aquilo que me levou aos 18kg a mais. Mas nestes momentos surgem outras pessoas que mesmo sem as qualificações necessárias souberam dar a motivação, aconselhamento e acima de tudo um apoio incondicional. Daqui retiro que uma formação académica não é o que faz um bom profissional, mas sim o seu caráter.
A conclusão que extraio deste acontecimento é que as palavras doem mais do que qualquer aparelho estranho espetado no braço ou do que 18kg a mais dentro do meu corpo.