Dependência da independência

Fim da licenciatura. Fim de um ciclo e começo de outro. Não consigo decidir qual o mais cansativo mentalmente, se o estudo constante e os trabalhos sobrepostos, ou a procura diária e incansável por um emprego que faça jus àqueles três anos. 
O processo de enviar currículos assemelha-se em certa parte ao processo de entrega dos trabalhos ou questões académicas, sobretudo na parte em que alguns nem resposta recebiam. Não existe a oportunidade de demonstrar os conhecimentos que se foram adquiridos, nem a oportunidade de ganhar experiência, que é um dos principais requisitos para os empreendedores. É um completo loop, sem experiência, sem trabalho, o que leva a continuar sem experiência e mais uma vez leva a que não haja trabalho. 
Por vezes torna-se tão ou mais cansativa a procura de emprego, do que propriamente o trabalho em si, e por vezes ficamos esgotados mesmo antes de começar. 
Ainda hoje em conversa com um antigo colega, houve uma coisa que foi dita que faz todo o sentido a nível da preocupação que nós, jovens recém licenciados sentimos. Não temos oportunidade de emprego, pois pedem um número exorbitante de anos de experiência, e se não conseguirmos sair deste loop, vamos chegar a uma idade em que nos vão dizer "pretendíamos contratar alguém mais novo". 
Tudo o que pretendemos ao acabar um curso é uma oportunidade de mostrar o que valemos, sermos recompensados por isso no final de cada mês, e com isso conseguirmos conquistar o nosso património, seja ele uma casa, um carro, ou uma mera tenda de dois quartos com janela. Queremos não só sentir que somos capazes, como mostrar às outras pessoas que o somos. Quero mostrar, a quem me perguntava sempre que eu dizia que curso estava tirar, "esse curso serve para quê", que o curso realmente me serviu para mais do que simplesmente ter um diploma que me custou mais que uma propina mensal. 
Quero mostrar a quem investiu no meu processo académico, que não foi um investimento falhado ou em vão. Quero mostrar aos meus docentes que aprendi algo com eles, e poder transmitir às outras pessoas esse mesmo conhecimento, falando com orgulho quem mo transmitiu. 

Quero que realmente seja, fim de um ciclo e início de outro, e não, fim de um ciclo e fim da sanidade mental. 

Inês Marques, 19/06/2023